domingo, 20 de novembro de 2011

"The Bennet sisters were looking for husbands... but Lizzie Bennet wanted more."



Dentre as diversas adaptações para cinema e TV do consagrado romance Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, lançado em 1813, a última delas, do diretor Joe Wright, é a mais bem realizada. Acima de tudo, o longa Orgulho e Preconceito ( Pride and Prejudice, Joe Wright, França/Reino Unido, 2005) é uma ótima e sensível transposição do livro às telas, mas, no que diz respeito à temática deste blog, é um prato cheio em termos de representação feminina.

Ambientado no início do século XIX, o enredo se desenvolve numa época em que a única alternativa de ascensão social para as mulheres era o casamento. A união com um homem de prestígio era o máximo que uma mulher podia almejar, assim como o único ideal de felicidade e realização pessoal. Tudo se dava no plano do matrimônio, muitas vezes negociado no berço.

A própria Jane Austen foi uma exceção a seu tempo – escrever e “viver da pena” era algo considerado indigno e mal visto na sociedade patriarcal e de fortes valores tradicionais (para uma pessoa do sexo feminino, é claro). O mais irônico sobre a escritora que, em sua vasta obra, retratou a realidade de seu tempo e discorreu sobre relacionamentos e dilemas amorosos, é que ela nunca se casou. Dedicou sua vida à produção e publicação de seus romances (o que, como já foi dito, era extremamente excêntrico para os padrões da época) que até hoje são amplamente estudados e debatidos dentro e fora do meio acadêmico. A aparente banalidade dos romances de Austen é algo que foi, inclusive, jogado por terra: a fina ironia, a crítica de costumes e o fiel retrato da sociedade burguesa britânica presente em suas histórias são provas de que seu talento e sua perspicácia iam além da construção do enredo (a biografia da escritora, aliás, também foi recentemente adaptada para o cinema, trazendo Anne Hathaway no papel principal).
A trama central de Orgulho e Preconceito é bem simples: as cinco irmãs Bennet, de família de pouca importância social e detentora de posses medíocres, estão em idade de se casar e têm sua vida mudada com a chegada de Charles Bingley (Simon Woods) e seu amigo Fitzwilliam Darcy (Matthew MacFadyen) – homens de posse e importância – no condado em que residem. A mãe das garotas, que tem como única prioridade na vida o matrimônio das filhas, inicia uma incansável campanha para aproximar a filha mais velha de Bingley, e, nesse ínterim, a história prossegue com uma boa dose de decepções, esperanças e o despertar de sentimentos permeado pelas convenções e imposições de uma inflexível sociedade baseada no prestígio.

Dentre as Bennet, Elizabeth (Keira Knightley) se destaca pela inteligência, pelo espírito livre e principalmente por sua vontade íntima de transcender as limitações impostas ao sexo feminino no referido contexto. Quando recusa uma proposta de casamento, ela sofre a repreensão da família sob a alegação de que aquela poderia ser a única de sua vida, uma vez que não detém poder e nem fortuna. Imersa num conflito pessoal, ela declara preferir o humilhante futuro de mulher solteira a aceitar a mediocridade de um casamento imposto, ainda que promissor.
Neste ponto do filme, fica clara a escassez de opções e o dilema de uma mulher inserida no aprisionamento da sociedade burguesa do começo do século XIX. Mesmo uma mulher pertencente a uma família abastada via no casamento a melhor perspectiva. Nas famílias de poucas posses, assim como é o caso da retratada no longa, essa necessidade se tornava imprescindível. É curioso como, nos dias atuais, não conseguimos formar uma noção exata do que isso significava naquelas circunstâncias históricas e sociais. Mas, para não cair no risco do anacronismo, é importante tentar compreender com um viés coerente com a realidade daquele tempo. É a tal história da aparente banalidade dos romances de Austen: “ok, o assunto é sempre a mesmo, mulheres que se veem às voltas com a necessidade de se casar, correndo atrás de maridos ricos”. Hoje em dia isto pode soar ridículo, mas só se for desconsiderada a evolução de todo um processo de emancipação.
O fim da saga de Elizabeth, que depois se envolve com Darcy, é obviamente reflexo do desejo e da criatividade da autora. Mas é o de menos se comparado à trama bem desenvolvida (e, mais uma vez , transposta de forma excelente às telas por Wright) e principalmente à história pessoal de Austen, ela própria uma mulher pertencente ( e portanto “conhecedora de causa” ) do contexto que tão bem relatou. Nem que seja para contrastar realidades e refletir um pouco com mente mais aberta, vale assistir ao filme e, é claro, ler o livro, um clássico da literatura mundial.

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